sexta-feira, 11 de março de 2005

CONVERSAS em cima do TELHADO

Michelle Beber, colega, ex-aluna e hoje amiga e companheira de diálogos, me perguntava sobre TELHADINHOS?...e respondí :

Porque não planos inclinados por dentro e por fora, gerando espaços, com honestidade?...se a arquitetura nao é objeto e sim sequência emocional...
Segue... o diálogo:

Michelle said... estava eu mesmo com algumas revistas de arquitetura alemã (projeto de residências) em minha mesa desde a semana passada..... e a cada folha que virava no decorrer dos dias...a mesma pergunta fazia.....isso é arquitetura ou a arquitetura está só no corpo e o chapéu, chantili do bolo, ou como quiser chamar é só um enfeite?...Terá que concordar comigo que não é fácil qualificar a VERDADEIRA arquitetura quando a casa é composta por telhados. Por que? Vejamos...embora a essência não muda de casas que tenham telhado para as que não tem,... deve-se buscar se há um conjunto como um todo, e se o telhado não é só parte da casa e sim também um transmissor da VIDA, da ALMA do espaço... devemos ter os planos inclinados como espaços vivos, certo... mas mesmo com todos estes elementos se preenchidos juntamente com o olhar subjetivo, muitas vezes não consegue-se perceber se a arquitetura é ou não VERDADEIRA. Acredito que esta dificuldade de visualizar e chegar a um diagnóstico se dê pelo fato de que o telhado passa a ser um elemento de camuflagem, que engane os olhos... OLHAR é isso... Talvez se dê simplesmente pelo olhar não treinado para sua visualização VERDADEIRA...talvez seja uma questão cultural, que com certeza isso influência muito no saber olhar...talvez seja por uma questão de gosto, que faz com que os olhos já olhem com uma forma negativa ou positiva aos telhados... tudo isso explicaria porque as crianças desde pequenas fazem seus primeiros desenhos com casas de telhados inclinados.... os olhos são treinados para isso... Mais como saber olhar então?. Não sei bem... 1:22 PM

Hugo Nieto said... Me refiro mais ao PLANO INCLINADO como divisor do que é o "dentro" e o "fora" ... assim como o MURO no sentido vertical faz o mesmo. O plano inclinado que se abre ao horizonte e se ergue, ou então o que desce e contém a varanda, a expansão do espaço interno. O plano que define a espacialidade, e direciona...SEMPRE de dentro para fora...NUNCA atendendo olhares de fora para dentro. Sempre estabelecendo a RELAÇÃO ou a NÃO-RELAÇÃO. 3:24 PM

Michelle said... OK... Continuando o pensamento de como ver a verdadeira arquitetura neste assunto telhado?... eu disse que o telhado não é só parte da casa, e sim também um transmissor da VIDA, da ALMA do espaço... devemos ter os planos inclinados como espaços vivos,....por outro lado disse que para mim as vezes os telhados não passavam puramente de um chapéu para o corpo da edificação, certo? Falei que talvez vá do modo de olhar, do cultural, da camuflagem....e você respondeu que NÃO se deve olhar de fora para dentro, certo? SIM concordo...mas mesmo que olharmos de dentro para fora, nem sempre temos os planos inclinados como espaços vivos,... Então... li e reli o que escreveu e a resposta esta no que você escreveu... MURO... assim agora ficou fácil, o olhar, sentir se há a VERDADEIRA ARQUITETURA... como? se conseguirmos relacionar o MURO a este telhado em seu sentido de também ser vivo, fazer parte do todo, compor de alguma forma o espaço estabelecendo a RELAÇÃO ou a NÃO RELAÇÃO é porque TEM-SE A VERDADEIRA ARQUITETURA!!!!!!! Logo o restante será SIM um CHAPÉU, ora clássico, ora de mexicano, ora holandês....mais sempre será um chapéu......sem sentido....e é aí que entra o olhar que me referia anteriormente... o cultural... agora acho que a viajem chegou ao seu destino certo....ou não...? 4:45 PM

Hugo Nieto said... Sim... chegou... mas o cultural precissa ser reinterpretado. Mantera a essencia e sua significancia. O assunto cultural leva também a se posicionar quanto ao ONDE e com QUE se define a identidade...a partir do objeto ou do modo relacional da tribo em questão?...o modus vivendi. 4:59 PM

Hugo Nieto said... Vinculando o comentario à postagem VIAJANDO..VIAJANDO...acho que daria para entender melhor o que estou tentando dizer. 5:49 PM

Michelle said... Pensei... pensei...Viajando,e pensando voltei a algumas estações e fui ler seu comentário, e continuando a viagem reli o meu comentário postado naquela postagem... viajando e pensando.....algumas coisas ainda estão no ar..... viajando e pensando.....de muitas concluídas esta tarde, uma é a real, os planos só são planos verdadeiros....sejam eles inclinados ou não, se há um porquê de EXISTIR e transpõe ao espaço criando uma dinâmica espacial. Dinâmica espacial? Sim, pois no caso de um plano inclinado são expostos milhões de alturas e nestas alturas é que percebemos as sensações. Sim, as sensações ... ora somos aconchegados por ela, ora nos sentimos pequenos diante da sua magnitude espacial... A noite caí, os pensamentos continuam, os conflitos são muito, mais relembrar as sensações sentidas estando contida em um plano inclinado foi essêncial... de dentro pra fora (você disse)... o relacional e o vivêncial (vocè disse)...agora quanto ao cultural... deixaremos para outro dia... em uma outra estação de uma próxima viajem 8:04 PM

3 comentários:

HUGO NIETO disse...

Quanto ao cultural...de onde surge o valor formal no cultural?...neste ponto da viagem acho que devemos entrar no tunel do tempo...na linha do tempo...no inconsciente coletivo...na memória...na autopoiese coletiva...social.

Anônimo disse...

Telhadinhos também podem ser "sequência emocional", tudo depende do olhar...Não há o certou ou o errado, o bonito ou o feio...Em cada um as emoções são despertadas de maneiras diferentes, e há que se respeitar... Pode ser apenas uma questão cultural, gostar ou não de telhados? Pode! E quem vai mudar isso? E quem é que vai dizer que está errado? Talvez sejam chantilly, chapéu, mas há alguém para quem sejam representativos, sejam planos inclinados, gerando ou não espaços...A arquitetura também acontece no vazio, no não-ser, no não-conter. Os telhados protegem da chuva e do vento, e, se você subir neles, quem sabe possa até voar...

Anônimo disse...

Ok, basta olhar em volta para perceber como os telhados são representativos, e não há como mudar isso.
Mas que há algo muito mais subjetivos na questão telhados isso há, e aí é que vem os questionamentos. São intervenções ora históricas, ora culturais, ora CONCEITUAIS ora de linguagem, e ora é uma miscêlania de tudo. Sempre há algo por trás, o conceito principalmente.
Analisar objetivamente que os telhados como abrigo, protegem da chuva e do vento esta totalmente certo....mas é como se tirasse da arquitetura todo seu sentido poético, que vai além das necessidades físicas, atravessa o imaginário e dá vida a arquitetura...e é aí que entra estas intervenções discutidas.....chegando a isso.... consegue-se voar do telhado sim, mas não há necessidade de subir neles basta se entregar ao sonho arquitetural. Confesso que ainda não consegui fazer este voo completo, pois as intervenções culturais ainda estão no ar e é difícil amarrar todas as linhas.....mas um dia eu voo de lá....no imaginário.
michelle_arq